[Émon. Exercícios de estilo. 4] Émon está sentado no chão, encostado a uma parede, uma mancha verde, um montículo de ossos dobrados. À sua frente, o homem-activo agita-se, percorre o pavilhão, transporta vigas de madeira. Por isto, por ter este hábito, ou outros com igual exigência de força física, tem a musculatura desenvolvida e executa as suas actividades com leveza e elegância. T-shirt, calças justas, botas bicudas, tudo preto. Os braços nus, lívidos. Segura uma viga com a mão direita, uma viga comprida. Manipula-a com a força de um só braço, coloca-a paralela a outras, enquanto anda: pernas de perfil, passada larga, tronco a três quartos, olhando para a frente. Constrói estruturas paralelas e ortogonais ocupando todo o solo do pavilhão. Ouvem-se, ritmadamente, sons, do contacto dos materiais e do eco. Depois este homem-activo desconstrói as estruturas e cria outras novas. É este o seu trabalho de atelier.
No chão, Émon extrai duma perna uma pequena bolsa rectangular forrada com um tecido impermeável de cor violácea. Abre: é um microcomputador. À direita, na vertical, está encaixado um cigarro de haxixe. Acende-o. O fumo sobe numa linha recta. Émon liga o computador ao cérebro utilizando um cabo que introduz num orifício situado sobre a orelha direita. Filma o homem-activo utilizando os olhos como objectivas. O homem-activo percorre as suas estruturas incansavelmente e dá voltas ao atelier durante sessenta minutos: a duração do filme registado pela cabeça-computador de Émon, alterado pelos fumos do haxixe.
O homem-activo senta-se ao lado de Émon. Temos agora uma mancha negra junto de uma mancha verde, que se destacam de um fundo branco, tendo em frente estruturas geométricas elaboradas com vigas de madeira que se prolongam no espaço. O homem-activo encosta a cabeça à do seu vizinho e recebe vibrações, mensagens contraditórias, fluxo intelectual que lhe chega em rede, do computador, da cabeça de Émon. Imagens, flashes luminosos, teoria, vozes, matemática. Após um breve período consegue distinguir a linguagem molecular exclusiva de Émon, que passa para o seu corpo, entrando na corrente sanguínea. Contém essências de Émon, muito agradáveis e pacificantes. E contém também elementos seus, produzidos enquanto deambulava pelo espaço interior.
Essências e elementos alimentam-se de um e do outro, fundem-se e desenvolvem-se em originais e belas combinações. O fluxo mantém-se, passando de uma cabeça para a outra, indo ao computador e voltando. Gera-se uma nova forma de vida com início no homem-activo. Os seus braços lívidos ganham qualidades incandescentes, enquanto à volta dos dois se forma uma aura vermelha. Que solidifica, partindo-se depois como um molde de cera. Eles ficam intactos.
— Django