Sim… Fascismo nunca mais… É uma belíssima frase. Compreendida como símbolo, não particularizando. Um símbolo expansivo. Poesia e filosofia. Uma precaução. Os fascismos estão sempre prontos a avançar, trazidos por um mentor ou pelos comuns, entusiasmados, no conjunto felizes e egoístas, destruindo a particularidade alheia, inútil paisagem. Por isso a frase se repete. Provavelmente expressa uma ingénua pretensão, irrealizável, utópica portanto. Por graça, é uma recusa das grandes utopias, completas e complicadas, cheias de desejos e programas para os outros, sem os outros poderem aprovar ou negar o que lhes está reservado.
Estas utopias recentes, sonhadas e realizadas, germinadas no século dezanove, sufocantes, progressivamente instaladas pelo mundo a partir do início do século seguinte, o passado, cumpriram-se como monstros, mais ou menos hediondos, mais ou menos esfomeados e sanguinários. E tinham na base desejos gentis, se bem que discutíveis. São todas primas: Socialismo, Nacional-Socialismo, Fascismo, Estado Novo, todas complexos e apertados esquemas de governação onde o colectivo apaga o individual, alisa os cérebros e ridiculariza a democracia.
Os vestígios das ditaduras nunca desaparecem. Continuam a assombrar. Hábitos censórios, o Estado invasivo ou desejado. Karl Marx passa a voar montado numa vassoura. O desejo de Marx: o feitiço mais popular. Apesar de tudo o que significa: o cheiro a ranço e a Estado policial, a ditadura do proletariado, o fim da propriedade privada, o ódio de classe ou a autofagia do capitalismo. Enquanto Marx continuar a ser desejado não estamos seguros.
A tempos, a ditadura é divinizada. Foi moda entre as vanguardas do início do século vinte. Por exemplo. E ciclicamente se renova. Neste momento metade do mundo está sob uma ditadura. De direita ou de esquerda, nacionalista ou internacionalista, a corporação, a comuna, a política do espírito, a alegria no trabalho, o governo forte sem intermediários e outros empecilhos. O absolutismo socializante, o homem novo, que nunca será um homem livre, já que foi fabricado segundo o desejo de outros.
Em oposição surge, como força contrária, detrás de um fumo espesso, Friedrich Nietzsche, filósofo-póstumo, guerreiro, passando por cima da razão, anunciando o homem bestial que salta por cima da rebanho e não se deixa contaminar pelas convenções. Que rejeita os valores absolutos, a ideia de uma moral objectiva e universal… [suspiro]
Como poderíamos adivinhar que passado tanto tempo estaríamos a discutir a oposição entre Absolutismo e Liberalismo, Socialismo (real) e Democracia (capitalista)?