Caros leitores, mudemos de programa. Sejamos adultos. E sejamos imaginativos. Avancemos de peito aberto. E sobretudo não compliquemos: novo paradigma económico? regresso da política? macro-regulação? Falta aqui um toque de caos e de vida — tenho de admitir que gosto deste ambiente apocalíptico de final de civilização que nos vem seguindo, os choques petrolíferos que deixam a economia planetária virada do avesso, os carros à beira da estrada sem gasolina e a revolta a generalizar-se. A Banca a falir levando tudo de arrastão: a macrocefalia, o dinheiro do petróleo, tudo virado do avesso de novo.
A mãe do apocalipse: a ruptura do equilíbrio geoestratégico, a emergência de novas polaridades: novos entusiasmos, novos antagonismos, os novos wannabes globais, a força do embate de civilizações. São tempos efervescentes. O futuro desenrola-se com mais propriedade e realidade. O mundo heterogeniza-se. As sociedades transformam-se, deixam-se contaminar, adaptam-se a novas situações. Quem quer o passado de volta? O passado burguês, chato e sossegado.
As sociedades podem elevar-se em formas extraordinárias. Podem admitir e admirar novos centros de poder. Novas periferias de poder. Poderes públicos, económicos, intelectuais, civis, rivalizando entre si, concorrendo com serviços similares, partilhando a ribalta. Protagonistas de igual direito. Administrações públicas alternativas, financiadas por empresas. Estados dentro de Estados. O poder fragmentado. Regresso à política, pode ser — mas a política alargada a toda a sociedade e não a tradição unívoca estatal. Regulação — independente, privada, socializada, tanto faz — micro-regulação ágil, não intrusiva, não limitadora, mas fiscalizando, escrutinando todos os poderes, em todas as frentes, devidamente descentralizadas. Pensem nisto.