Acho este Papa interessante. É um intelectual, tem um discurso que não é ligeiro nem facilitista, que lhe tem trazido problemas porque o público que recebe a sua teorização não está preparado para descodificar a sua complexidade — estou a referir-me à comunicação social e associados comentadores, a habituais-activos-do-contra, apressados a responder, porque o grosso da massa católica não tem sentido crítico. É um Papa realista que afirma que a Igreja Católica nunca mais recuperará o lugar que já ocupou e que a sua trajectória é descendente. É o custo da pureza doutrinária e da recusa do estrelato. O Papa não quer ser star e recusa-se a integrar o star system. É chique e usa um sotaque requintado porque tudo isto faz parte da tradição. E o Papa gosta muito da tradição.

Tentando manter a tradição intocada inventou agora a tese da ecologia humana, muito rebuscada, utilizando termos exóticos como gender — mas não querendo referir-se a questões transgender — o Papa não sabe o que isso é. O Papa anseia proteger as criações de Deus. Também se preocupa com a Natureza e as chuvas ácidas — porque teme que lhe estraguem os sapatos. Mas não se pode confundir Natureza com Deus. A Natureza não é uma entidade, é simplesmente uma criação de Deus. Tal como o Homem. E o Homem não pode ter ideias esquisitas, emancipadoras e dedicar-se a actividades para as quais não foi programado. É esta a luta de Bento XVI: a integridade da criação de Deus, que tem tendência para o desvio, para se deixar influenciar pelo próximo ou por uma qualquer inaceitável natureza própria, para fazer coisas esquisitas com o seu corpo — como introduzir pénis em sítios que não lembra a ninguém, ou piercings, ou alterar o código genético de algumas células. Este Papa é um cromo.

Por outro lado detesto este Papa. Detesto qualquer Papa e a Igreja Católica. Padecem de alguma doença — porque vêm inocular esta doença na humanidade? Esta organização do ramo propagandístico tem agentes infiltrados em todas as áreas do globo com o intuito de alterar consciências e estados de espírito. O seu negócio é a contaminação de mentes com ideias perigosas à vida, tentando que os seres humanos se comportem como se comportavam há dois mil anos ou segundo as regras inventadas pela própria organização há mil anos, na Idade das Trevas. A mensagem, transmitida por meios pirotécnicos e complicadas encenações, é insalubre, contrária à alegria e pudica. E discriminatória.

O Papa não veste Prada. O que é uma pena. Veste outras chiquezas. O Papa mais artificial de todos os Papas — espécie de boneca virtual de chapéu vermelho Vivienne Westwood, vestido branco que lhe tapa todo o corpo — nem o pescoço deixa visível — apertado por pequenos botões, pesponto minimalista, acompanhado de microcapa, terminando nos célebres sapatos vermelhos — este Papa, que dirige um bando de eunucos que não se casam nem têm sexo e são igualmente deslumbrados por vestidos e rendas, atira-nos à cara com uma nova face da eugenia — a pureza da raça, a pureza do sexo, tal como descrito nas sagradas escrituras, ou não. Eugenia bíblica. É racista e segregacionista — porque somos todos sagrados. Por princípio. E o Cristo é nosso amigo. Tem o Papa toda a conveniência em indispor e insultar a massa humana, achando-a artificial, pecaminosa e autodestrutiva. E tenho eu toda a necessidade de o maltratar. Eu — fingido, postiço, falso.