Excitações perfeitamente descontextualizadas e descontroladas. Quem disse o quê? Quem sabe? Que interessa? Que interessante!

O país está em guerra, de Bragança ao Algarve. A rua é a mais solene e grave das advertências ao Poder, quando o Poder, mesmo democraticamente eleito, quase se traveste de tirania. A sociedade mediática criou uma embriaguês de estímulos que embrulha e asfixia, manipula e embrutece. É preciso lidar com ela como com a poluição. A ninguém parece estranho que de repente decidam eleger a ministra como a ‘besta negra’ que vai encher o país de analfabetos? O país não pode ser governado pela agenda de lobbies e sindicatos. O clima de insegurança que se vive em Portugal não pode ser dissociado da instabilidade social que o país atravessa. Começa a chegar o tempo para uma ‘refundação’ da democracia portuguesa. O país oscila entre o oásis e o abismo. A democracia portuguesa está deformada. Os partidos estão desacreditados e os políticos são desacreditantes. Portugal sobrevive num sonambulismo onde o desacerto se tornou coisa aprazível e a mediocridade a medida de todas as coisas. Os tempos estão difíceis. Mais do que a crise, preocupa-nos a atitude com que os portugueses parecem não enfrentá-la. Vamos vendo um País, em grande medida, paralisado e atemorizado. É um destino trágico que um governo socialista seja o mais liberal de todos. O primeiro-ministro é um grande actor. Se o combate à criminalidade é assunto de polícia, o ‘combate’ à percepção de que o país está mais perigoso é um assunto de política. Oposição a este Governo do PS? Só se importarmos um partido de direita lá de fora. Os professores vão para a rua porque uma senhora com um saudável mau feitio acabou com o Ministério dos Professores e tenta, há três anos, criar o Ministério da Educação. Vivemos num País que já não tem a ver com o país de Abril. Há um ranço salazarista nesta gente. Não vale a pena escamotear. A onda de crimes violentos que nestes tempos tem ‘rebentado’ por este país fora está a provocar medo e um forte sentimento de insegurança nos cidadãos. Os professores estão fartos de serem tratados como um bando de malandros. Não vale a pena minimizar a realidade que temos em matéria de segurança, porque ela pode não ser estatisticamente relevante mas no terreno, sobretudo nas áreas metropolitanas, é potencialmente explosiva. Ao fim de anos de PS e PSD, juntos, separados e coadjuvados pelo CDS, os portugueses já não comem pão. Alimentam-se de brioches barrados com chantilly.


[Fonte indirecta: jornal Público em Fevereiro e Março de 2008]