Basicamente pensamos através de um efeito reflexivo, por contaminação. O nosso raciocínio não é muito requintado. Coisas que ouvimos ou lemos vão-se alojando algures no nosso cérebro, ou flutuam na memória RAM, juntando-se a outros dados já existentes. Quando produzimos um pensamento original esse pensamento é já uma mistura de outros, de autorias várias. Nasce de associações, activado por choques eléctricos que ocorrem no cérebro. O resultado final é variável: depende das fontes, do material utilizado, da qualidade ou da ginástica mental. Assim se expelem pensamentos mais ou menos originais. Ou nada originais.

As ideias vão-se encostando umas às outras, vão-se empurrando e confraternizando e produzem o pensamento comum, também chamado ideia-feita. É o efeito de contaminação. Ideias que contaminam outras: se se dá o caso de serem ideias com uma sustentação duvidosa daqui nascem afirmações e verdades duvidosas. É muito fácil uma sociedade inteira, um país inteiro, um mundo inteiro repetir ideias palermas, sem se lembrar de as pôr em causa. Sem se lembrar de investigar a origem e veracidade dos dados que compõem a ideia. A ideia-feita que se propagou por contacto físico, pelos meios de comunicação de massas, que parecia tão atraente, tão luminosa. Uma ideia tão acertada, tão lúcida.

Experimente, por favor, aplicar este raciocínio às grandes ou pequenas questões que atormentam a sociedade. As questões que todos repetem, sem conhecerem a origem. Se retirarmos peça a peça e observarmos com cuidado podemos concluir que alguns destes pedaços nunca foram reais. Ou que são especulações ensaiadas. E que aquela ideia não presta. Experimente, caro concidadão, fazer isto no editorial de um jornal.