Não é muito sedutora a imagem de um Polícia a apontar uma arma para mim, para o veículo, para verificar informações injectadas no Chip. É o cenário de um quotidiano agressivo e policiesco. O meu carro filado. Sensação semelhante à de ter incrustada uma pulseira electrónica. Num tornozelo. Como um pombo. Ou um cadastrado infame. Ser considerado um cadastrado em potência. A pulseira a apertar se eu não reagir a uma ordem categórica. A pulseira viva, apertando a carne, cortando a circulação, produzindo dores excruciantes. Uma perna inutilizada, inchada, vertendo sangue.

O sangue também monitorizado e alterado, biotransformado, envenenando-me, emitindo sinais de alerta, origem de relatórios e conjecturas, delícias da Bio-Polícia. E eu caído, com a perna roxa, arrastando-me. Mal. Sou um empecilho tombado à beira da estrada, pronto para ser recolhido por um dispositivo mecânico securitário que patrulha as ruas da Cidade.

Ou ser atingido por um raio imobilizador disparado por um elemento das Forças de Segurança do Omni-Estado. Após detectadas hipotéticas irregularidades o raio fere a viatura motorizada, deixando-a inerte. O condutor, eu, saio, recuando atemorizado, sou também atingido pelo fluxo brilhante e incandescente que jorra da arma. Caio fulminado, como numa banda desenhada da Marvel. A BD é a realidade.